TUDO É CINEMA
- Toda imagem é a mesma. A mesma da mesma forma que todo produto, em análise, retornara natureza, que só pode existir como farsa apartir de uma cadeira. E da mesma forma que um alfabeto sempre é o mesmo e as cordas vocais das quais se professam diferentes línguas, também as são parte de matéria, de um planeta, de uma terra que não se pode ver. Mas não falo de matéria prima; não falo de nitratos, chips de 120gb, hard-drives, rolos de camera fotográfica. Falo da realidade. Bazin estava certo. O cinema é uma farsa de si, na medida que tudo o é. Falo minha língua sem conhecê-la, ela já está morta e minha poesia não passa de um cadáver, de uma angústia inevitavel da impossibilidade de uma palavra que retenha todo possivel significado que um dia eu quereria dizer. Vinicius de Moraes estava certo. Da mesma forma esta presa a imagem à realidade. O anjo tenta sair de seu útero e tornar-se pleno, mas jamais o conseguirá. Há apenas uma estrada contínua, as vezes silenciosa, as vezes cheia de buzinas, mas há apenas ela. Uma inevitavel vertigem que apresenta o risco de que bombas de hidrogênio, faixas de gaza, mortes em meio a dia ensolarados, falas conspícuas de político e campos de concentração a “Tornarem-se apenas um detalhe”. Godard estava certo. Tudo é cinema, tudo é duas coisas em uma mesma face. Tudo é minha mão e meu braço, tudo é e meu rosto que se estende em face. Orson Welles estava certo. Tudo é verdade. Tudo é mágica, faço em minhas mãos faísca para que não se veja que tiro de meu casaco um pássaro. E fecho minha mão para que meu sobrinho não veja que nela há uma moeda. Adorno estava certo. Arte é mágica liberta da responsabilidade de ser verdade. A odisseia nunca acaba, não existe pátria, da mesma forma que não existe nada que não seja pátria. O Eu é incurável. Os rolos acabam, se perdem no espaço, mas eu coloco outro filme, leio outra palavra, coloco em minha mão uma caneta e faço um traço. Faço o que faço ao nada. Me rendo ao sonho. Gullar o disse melhor: Eu acordo na zona.