A MÁQUINA GLOBAL
Viva e morta, a Rede se embaraça por cada canto da Terra, "Um Mundo todo vivo" já disse uma moça que devorava baratas. Mas parece que não há mais nada vivo que escape desse meu futuro.
Tive o primeiro contato com A Máquina Global ao ter o corpo penetrado por um pedaço de cobre voador que fugiu de minha placa de acesso, sinto que me sabotaram de algum jeito. Guardas com pontos vermelhos reluzentes em seus visores rondavam minha casa durante a manhã, suas presenças causavam interferência naquele poste que desde meus primeiros acessos na Rede, era a fonte primária de meu receptor interno. Um desequilíbrio emanava dos chassis de seus carros metálicos prateados, que, consigo carregavam em rachaduras imperceptíveis micro fragmentos de vísceras secas que aquele mecânico do mercado negro não havia conseguido limpar.
Sentindo tudo em meu corpo, realizava a manutenção do chip elétrico de dentro do meu quarto, brigava com a máquina que tentava me possuír. Mas as ondas na rede causaram uma interferência destrutiva - um loop de feedback positivo enviou voando o tentáculo cobreado e afiado daquela máquina vivamorta (como todos os vírus naturais) diretamente em meu pescoço. Por imediato senti a descarga de energia a paralizar meu corpo completamente. As contorções faziam minha consciência entrar numa rotina hiperrápida de on/off, assim sentia todas as cores e tudo além do meu redor, 0/1, tudo e todos.
Um gosto metálico se impregnava em meus lábios junto da estática bipante de algo que parecia um contador de radiação a curta distância, Todos estavam ali. Eles eram nomes físicos, algo tido de inumano na semiótica básica de um nome feito em carne, mas aquilo era metal, ou parecia ser. Bilhões de linhas se convergiam num espaço aproximadamente infinito que meu corpo já parecia se projetar com uma forma que sentia distorcida, eu ainda estava apoiado naquela mesa ao mesmo tempo que não era nada, e parecia sentir todos através de um sentido novo que transformava minha visão em um caleidoscópio de luzes. Nesse espaço inexistente o reflexo de uma gota se amalgamava numa constelação inteira.
Tentava lembrar de algo ou alguém para me recuperar daquele momento mas agora já estava tudo mais turvo; Eu ainda lutava com a máquina mas já não sabia de nada, tudo estava ali em meus pensamentos, eu a criança vendo os inumeráveis infinitos tons de verde que as lâminas de relva do parque possuem. Eu já nao era nada e possuia todos.
Todos estavam ao meu redor, todos, aquele segurança e meus pais, sentia a máquina global. Um funcionamento de Inferno que decumpunha todas as suas engrenagens e funcionamentos occultos através de um ritual forçado junto da metamorfose infinita, já nao consigo mais dormir nem pensar direito, tudo para mim é metal. Ainda sentia o cobre deslizante na carne viva, a ferida de gosto gelado, sangue com sangue na uma troca arrepiante da viagem elétrica. Todos já não estavam mas continuavam sendo reais, uma multidão onírica que ainda me atormenta.
Pensei que com o tempo passando algo poderia mudar, mas no fundo sei que nunca fugirei - estamos todos conectados.